De cabeça baixa


Sinopse

 Sinopse

Um escritor em auto-exílio que encontra seu livro num sebo, cinco anos após a publicação deste, com as margens do texto todas anotadas com comentários cáusticos. Felipe Laranjeiras faz da tentativa de achar essa pessoa que escreveu no exemplar encontrado o ponto de partida para que ele consiga retomar sua vida, que ficou estagnada desde que o livro foi lançado com resenha negativa no jornal. Antes da publicação do livro, Felipe Laranjeiras era um escritor promissor, namorava, e depois do lançamento acaba preso no próprio fracasso, exilando-se voluntariamente em Curitiba, fugindo de todos e de si próprio. Com a descoberta de Desencanto no sebo, o livro que o tirou da cidade acaba o trazendo de volta ao Rio, onde tenta retomar sua vida do ponto que ela parou.

Orelha

Albert Camus escreveu certa vez que os únicos paraísos são aqueles que perdemos. Referia-se à capacidade que a memória tem de reconstruir cenários, envernizando o passado com uma demão capaz de apagar suas naturais imperfeições. Pois a história de Felipe Laranjeiras, protagonista deste romance de estréia de Flávio Izhaki, acrescenta novos matizes à amargurada assertiva do autor francês.

No início da trama, Felipe encontra-se exilado em Curitiba após um duplo malogro: a péssima receptividade de seu livro pela crítica somara-se ao fim da relação com Luana. Decorridos cinco anos desde a partida do Rio de Janeiro, ele empurra os dias na capital paranaense regurgitando “um gosto azedo, uma bile amarelada”, até que, durante a visita a um sebo, depara-se com um exemplar do fracassado romance. As páginas do livro têm, em seu entorno, uma série de anotações e, na folha de abertura, uma dedicatória: “Para Ana Maria”.


É a realidade que berra, “palpável, gelada”, como “uma corrente de ar frio vinda da rua”, e o expulsa do exílio voluntário. Felipe decide então encontrar a tal mulher e, em sua busca, encena a dolorosa tentativa de religar todas as pontas soltas. Expiando o hiato entre o artista promissor e o homem precocemente amargurado, ele procura também esquadrinhar os motivos do esfacelamento de seu caso com Luana.

Essa viagem – paralelamente literal e introspectiva – é conduzida com mão firme por Flávio Izhaki. Sem hesitações de estreante, açodamento ou barulhentas estripulias formais, o autor põe sua narrativa elegante e serena a serviço do enredo. Ao desconstruir o idílio, Flávio acaba por nos lembrar que, na literatura assim como na vida, todos os paraísos são mesmo artificiais.

Marcelo Moutinho


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